| Plenário pode libertar o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro em votação tensa ainda hoje | Foto: Thiago Lontra/ALERJ |
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) mergulhou em um clima de tensão política nesta segunda-feira (8) ao iniciar, por volta das 15h, uma sessão extraordinária para votar a revogação da prisão preventiva do presidente da Casa, o deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil). Após um acordo entre base governista e oposição para agilizar o debate em plenário, os 69 parlamentares presentes – com quatro ausências registradas – agora decidem o destino do parlamentar, detido há cinco dias pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Unha e Carne.
A votação, que exige maioria absoluta de pelo menos 36 votos favoráveis para relaxar a prisão, segue o parecer aprovado mais cedo pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj, por 4 a 3, recomendando a soltura de Bacellar. O relatório, relatoria do deputado Rodrigo Amorim (PL), argumenta pela "desproporcionalidade" da medida cautelar e pela ausência de provas concretas de obstrução de justiça. "Não há elementos suficientes para manter um parlamentar eleito pelo povo atrás das grades sem denúncia formal", defendeu Amorim durante a sessão da CCJ, que durou cerca de duas horas e foi marcada por embates acalorados.
Acordo político e as ausências estratégicas
O pacto entre aliados de Bacellar – que controlam a base do governador Cláudio Castro (PL) – e a oposição, incluindo o PSOL, permitiu pular etapas e levar o projeto de resolução diretamente ao plenário, evitando adiamentos que poderiam estender a prisão indefinidamente. "Foi um gesto de maturidade política para debater o tema com transparência", afirmou o líder do governo na Alerj, deputado Zaqueu Guimarães (MDB), em entrevista ao G1. No entanto, o PSOL anunciou voto contrário, classificando a revogação como "escandalosa" e um retrocesso no combate à infiltração do crime organizado na política fluminense.
A sessão começou com confusão: relatos de discussões entre deputados e atrasos na leitura do projeto. Quatro parlamentares ausentes – incluindo nomes como Luiz Paulo (PSDB) – levantam suspeitas de manobras para equilibrar a balança. "Essas ausências podem ser decisivas; estamos contando cabeças", comentou um assessor de bancada oposicionista, sob condição de anonimato. Até o início da noite, a votação nominal prosseguia, com aliados de Bacellar prevendo folga de pelo menos 40 votos a favor da liberação.
O contexto da prisão
Bacellar foi preso na quarta-feira (3), em operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por supostamente vazar informações sigilosas da Operação Zargun – ação que mirava o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias (sem partido), ligado ao Comando Vermelho (CV). Mensagens apreendidas pela PF indicam que o presidente da Alerj alertou o aliado sobre a iminente prisão, permitindo que TH fugisse de sua residência na véspera da operação. No carro oficial de Bacellar, foram encontrados R$ 90 mil em espécie e três celulares, que seguem sob perícia.
A defesa do deputado, comandada pelo advogado Bruno Borragini, nega as imputações e celebra o avanço na Alerj. "Rodrigo é vítima de uma narrativa infundada; a Casa Legislativa fará justiça", declarou Borragini em nota. Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a PF pressionam pelo STF para que, mesmo com revogação, sejam impostas medidas alternativas, como monitoramento eletrônico e proibição de contato com investigados.
Procedimentos adiante
Caso o plenário aprove a revogação – cenário amplamente esperado –, Bacellar será solto imediatamente e reassumirá a presidência da Alerj sem obstáculos formais, conforme o artigo 53 da Constituição Federal. No entanto, Moraes pode rever a decisão em até 24 horas, impondo cautelares para preservar as investigações. Se rejeitada, a prisão se mantém até julgamento final no STF, podendo evoluir para processo por obstrução de justiça e corrupção.
O episódio expõe fissuras na base aliada de Castro e pode reverberar nas eleições de 2026, com duas vagas no Senado em jogo no Rio. Analistas veem o caso como teste para a influência do crime organizado na política local, com o governador sob pressão para se distanciar de Bacellar. "Isso não é só sobre um deputado; é sobre a credibilidade das instituições", alertou a deputada Renata Souza (PSOL), em discurso inicial no plenário.
A sessão segue em transmissão ao vivo pela TV Alerj, com expectativa de desfecho até o fim da noite.